🧠 Ter traços não é ter o transtorno

Por que não devemos nos diagnosticar sozinhos?

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICATESTES DE PERSONALIDADEDIAGNÓSTICO NEUROPSICOLÓGICO

Cris Aguiar

8/3/20252 min read

text
text

Nos últimos anos, tem se tornado comum ver pessoas dizendo: “acho que tenho TDAH”, “sou total borderline”, “tenho ansiedade social”, entre outras falas que tentam traduzir vivências emocionais em diagnósticos clínicos. Muitas vezes, essas conclusões vêm depois de assistir a um vídeo, fazer um teste rápido em uma rede social ou ler um post com lista de sintomas.

Mas aqui vai um alerta importante: ter traços semelhantes aos de um transtorno não significa que você tenha o transtorno.

Sintoma isolado não é diagnóstico
Todos nós, em diferentes momentos da vida, podemos experimentar sintomas como desatenção, oscilação de humor, dificuldade de socialização, compulsão, ansiedade ou até mesmo pensamentos obsessivos. A presença pontual ou moderada desses comportamentos, no entanto, não configura, por si só, um quadro clínico.

Um diagnóstico psicológico ou neuropsicológico exige análise criteriosa, escuta qualificada e uso de instrumentos técnicos validados cientificamente. O objetivo não é colocar um rótulo, mas compreender o funcionamento emocional, cognitivo e comportamental da pessoa como um todo — com contexto, história e singularidade.

O risco do autodiagnóstico
Se autodiagnosticar pode parecer um atalho para entender o que se sente, mas é, na verdade, um caminho perigoso. Isso porque:

  • Pode gerar identificação com transtornos que não estão presentes, gerando sofrimento desnecessário;

  • Pode mascarar questões reais que precisam de outro tipo de atenção ou intervenção;

  • Pode levar a automedicação ou uso de medicações sem acompanhamento profissional;

  • E, o mais grave, pode afastar a pessoa de um processo terapêutico profundo e responsável.


Testes psicológicos não são brincadeira
Na internet, muitos testes prometem “revelar quem você é” com apenas 5 ou 10 perguntas. Apesar de parecerem inofensivos, esses testes não têm validade científica e podem induzir a conclusões equivocadas. Diferente disso, a avaliação psicológica e neuropsicológica feita por psicólogo(a) especializado(a) segue normas técnicas, utiliza instrumentos reconhecidos pelo Conselho Federal de Psicologia e é sempre acompanhada de um processo clínico cuidadoso.

Em vez de rótulos, que tal clareza?
Buscar ajuda profissional não é sinal de fraqueza — é um ato de coragem. No meu consultório, muitas pessoas chegam com dúvidas sobre si mesmas e sobre suas emoções. E, juntas, construímos um espaço de investigação responsável, acolhedora e ética. Algumas vezes, o diagnóstico é confirmado. Outras, percebemos que a queixa inicial era só a ponta de um iceberg.

Por isso, se você sente que algo não vai bem, que sua vida está sendo impactada por emoções intensas ou dificuldades de funcionamento no dia a dia, não busque respostas prontas na internet. Procure um olhar clínico, técnico e humano.

Seu sofrimento merece ser levado a sério — com escuta, ciência e respeito.